11 de out. de 2011

Poesia Delirante: Os mendigos

Salve navegantes!

Hoje, terça feira, 11 de outubro, vespéra de feriadão, venho alimentar nossa Poesia Delirante
com o conto "Os mendigos" do nosso amigo Gabriel. Deliciem-se com esse trabalho e tenham todos um otimo feriado.

Paz, Luz e Psicodélia!



Os mendigos

Num tempo futuro, um mendigo que revirava os lixos da história encontrou um fragmento – Sim! Ele ainda sabia ler – que assim dizia: “Nos primórdios, quando ainda não sabiam que apenas não sabiam que sabiam, existia o sofrimento. E, além disso, pensava-se que por um prédio ser mais elaborado e complexo que uma casa simples, ele não teria também como matéria prima cimento e tijolos...”

Nisso, utilizando da I-M-A-G-I-N-A-Ç-Ã-O, aquele mendigo voltava no tempo e, maravilhado com aquela época sombria, comentava com um de seus companheiros de rua, que, inclusive, naquele instante, se encontrava numa avenida ao lado, embora num outro distrito, algo sobre o fragmento lido:

- Dizem que tudo começou com os caramujos, mas logo começaram a trabalhar no laboratório construído dentro da única prisão. E o mais incrível: Dizem também que o horário de funcionamento lá era de 24:00 às 24:00 horas, de modo que não sabiam se nunca terminava ou se nunca começava o labor. Mas só depois ficaram sabendo que essa questão não tinha nenhuma importância, tampouco fazia algum sentido.

- Só de pensar nessas histórias – disse o outro mendigo -, sinto calafrios! Ontem mesmo, o presidente da insanidade rememorava um feudo onde o rei construiu seu castelo sobre o próprio umbigo... Que loucura! Porém, faz sentido se pensarmos que a ignorância ainda era viva, apesar de bem velhinha. O mais triste são os relatos do homem que morria todos os dias de sede enquanto nadava num poço de água potável e cristalina.

- Ah! Por favor, vamos mudar de assunto, porque dói só de pensar que bastaria ensiná-lo a abrir a boca e engolir para que a sede morresse afogada.

- Não era tão simples assim, pois havia o Conselho do Medo – Sim, esses mesmos, os que não sabiam nadar -, eles eram os donos da maior empresa de engarrafamento, e também rotulavam e vendiam garrafas d’água – Isso que hoje chamamos de água suja -. E mantendo os nadadores com uma fita pregada à boca, eles realmente os deixavam limitados. Na verdade o líder desse conselho, armado até os dentes, escondia um segredo dos próprios membros do conselho: Se os nadadores aprendessem a beber a água do poço, ninguém mais iria querer comprar sua água podre e conseqüentemente ele não teria os copos de água limpa trazidos do poço, que eram na época a moeda de troca...

Esse diálogo se estendeu por quase dois anos, apesar de ter durado apenas dois segundos, até que os dois se foram e a paisagem ficou sem dia e sem noite, perdida no logos, somente após isso, o que se estendia se entendeu.

O fato é que foi um grande espanto quando a rua ausente ouviu da boca de um filósofo mudo, também conhecido como Desipocricritisado, o sermão psicotrópico: “O melhor meio de ensinar o mundo a descascar uma cebola é ensinando uma única pessoa, porque basta que alguém pare de tentar usar o cabo da faca para cortá-la, para que outras pessoas comecem a fazer o mesmo...” Sorte, muita sorte: Não havia ninguém ouvindo essas palavras - O que seria da formiga se aprendesse a cantar? Oh! O que seria do formigueiro... -, e a rua continuou deserta, com o ranger baixinho e metálico da lixeira a balançar. Por todo o sempre.

Gabriel L’Abbate Melo

Um comentário:

  1. Caramba! Muito bom... Desolador, Contemporâneo e futurista ao mesmo tempo. Quase um texto do gênero Cyber Punk... Faltaram apenas elementos totalmente futuristas como maquinas controladoras de humanos e pura automação...
    Mas muito bom eu curti, vlws Gabriel!

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