Bom, numa reflexão sobre nosso trabalho aqui no blog, cheguei a seguinte questão, como falar de psicodélia e não falar de um dos grandes nomes desse movimento? Albert Hoffman, devido a longa historia do pai da criança problema, dividiremos esse post em duas partes. Grande abraço!
Paz e Luz
Albert Hoffman, o pai de uma das droga psicodélica mais potente do mundo, morreu em 1 de maio de 2008 de ataque cardíaco na sua casa perto de Basiléia, na Suíça, aos 102 anos de idade. O anúncio foi feito no site da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos, entidade californiana que promove a investigação médica de substâncias como o LSD e maconha, e que reeditou o livro de Hoffman em 2005. Terá morrido “feliz e satisfeito” por ter visto “a renovação da investigação científica da psicoterapia à base de LSD”.
A imagem projetada por este homem, nascido em Baden em 1906, doutorado em 1929 pela Universidade de Zurique, que vivia numa pacata vila do Jura e trabalhou para a empresa farmacêutica Sandoz. Imagina-se um severo cientista de comportamento tão impecável como a sua imaculada bata de laboratório, mas Hoffmann defendeu sempre o LSD enquanto “medicamento da alma” – não só contra doenças d foro psiquiátrico como a esquizofrenia, mas também para combater a superficialidade humana dos tempos modernos. E acusou os apóstolos da era psicodélica – o mais célebre dos quais foi Timothy Leary, professor de psicologia de Harvard e um dos maiores promotores do abuso do LSD pelos estudantes norte-americanos – de terem arruinado o futuro promissor da droga. Devido a esses abusos e às histórias de terror em torno das trips que acabavam mal, deixando seqüelas psíquicas ou conduzindo ao suicídio alucinado os seus consumidores “recreativos”, o LSD, comercializado pela Sandoz desde 1947 sob o nome Delysid para exclusivo uso médico, foi ilegalizado em 1966 nos EUA e na Europa e a sua produção industrial interrompida.
O dia da bicicleta
A descoberta do LSD não foi de fato acidental. Quando da sua primeira trip Hoffman andava há anos a estudar ingredientes de plantas medicinais, tendo sintetizado este composto cinco anos antes, em 1938. Mas a descoberta dos efeitos espetaculares do ácido ao nível psíquico foi fortuita.
Tudo começou na sexta-feira 16 de Abril de 1943. Hoffman estava a repetir, no seu laboratório da Sandoz, em Basiléia, experiências com a “dietilamida de ácido lisérgico-25”, o vigésimo quinto composto que fabricara a partir da chamada ferrugem do centeio. A ferrugem é um fungo tóxico, mas é também a fonte de medicamentos como a ergotamina, que serve para aliviar as enxaquecas, e a ergometrina, usada para provocar o parto e controlar hemorragias.
Nesse dia, Hoffman começou subitamente a ter vertigens (sob o efeito de uma ínfima dose de LSD-25 que pingou sobre sua mão teria sido absorvida através da pele). Como não conseguia se concentrar, decidiu ir para casa, onde passou o resto do dia mergulhado em coloridas alucinações.
Na segunda-feira seguinte, regressou ao laboratório já recuperado e convencido que o estranho estado mental do fim-de-semana se devia ao LSD-25. Para confirmar tomou, desta vez deliberadamente, um quarto de grama – uma dose pelo menos cinco vezes maior do que é necessário para ter alucinações. Temendo ficar doente, pegou na bicicleta e foi para casa – mas a trip apanhou-o a meio caminho. Para os adeptos do LSD, aquele dia será para sempre recordado como o “dia da bicicleta”.
Hoffman publicou mais tarde um relato da sua experiência contando que, na altura, pensou que tinha enlouquecido. Desta vez, a trip foi má e Albert teve alucinações aterrorizadoras. No dia seguinte, os efeitos tinham desaparecido e ele sentia-se “perfeitamente bem”.
continua...